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Covid-19: Escolas e pais encontram na permuta uma opção de negociação

Famílias afetadas economicamente com as medidas de isolamento social encontram dificuldades em pagar pelas mensalidades escolares. Soluções criativas têm surgido, como o uso de permutas

Milhares de trabalhadores brasileiros já estão tendo seus contratos suspensos ou sofrendo a redução temporária de seus ganhos como efeito do isolamento social e paralisação das atividades econômicas para conter a pandemia da Covid-19. Em análise da conjuntura atual da economia, o Santander prevê que o número de desempregados no Brasil vai aumentar em 2,5 milhões de pessoas.

Um dos setores afetados é o da educação privada. Para se ter uma ideia, só nas escolas de ensino superior no Estado de São Paulo, a inadimplência cresceu 71,1% na primeira quinzena deste abril em relação ao mesmo período do ano passado. O dado é de uma pesquisa do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), feita com cerca de 200 instituições de ensino.

Em Goiás, a inadimplência também deve aumentar mesmo com recomendação de órgãos de defesa do consumidor para que pais e escolas negociem descontos ou flexibilização nas datas de pagamento. De acordo com o Procon Goiás, na última semana foi registrada uma média diária de 10 a 15 pedidos de esclarecimentos sobre cobrança de mensalidade, de transporte escolar e demais assuntos pertinentes ao universo educacional, número bem maior do que o registrado nas semanas anteriores.

Algumas escolas estão buscando outras soluções para o impasse, como as permutas. Dono de uma escola de Ensino Fundamental e Médio, a Expovest, além  de uma escola de inglês e um berçário em Goiânia, que concentra cerca de 600 alunos no total, essa tem sido uma alternativa escolhida pelo professor Eraldo Soares Dias.

Ele se cadastrou no sistema de trocas viabilizado pela XporY.com para que pais consigam negociar as mensalidades. Os pais oferecem produtos ou serviços na plataforma, e, ao vendê-los, recebem pagamento em X$, moeda digital utilizada pelos participantes do site, em proporção equivalente ao Real. Com o crédito recebido pelas vendas de seus produtos na plataforma, os pais pagam a escola, que também é parceira e tem cadastro na XporY.com.

“Hoje temos quatro ou cinco casos em que já negociamos com a moeda digital e vejo isso com muito bons olhos, pois acho que é uma ferramenta de mercado muito oportuna, em especial neste momento”, diz o diretor sobre dificuldade financeira que muitos devem passar nos próximos meses, devido ao impacto econômico da pandemia. O diretor explica que conheceu a plataforma no ano passado por intermédio de uma família que havia sido cliente da escola e teve que transferir a filha porque estava com dificuldades financeiras para pagar a mensalidade. Ele conta que a aluna foi transferida, mas o débito ficou.

“No ano passado, eles [os pais da aluna] nos procuraram, mais ou menos em setembro ou outubro, nos falando dessa plataforma de permutas digitais. Achei interessante e depois de um tempo, para regularizar o débito deles, aceitamos parte do pagamento da dívida em X$, o que foi interessante tanto para eles quanto para a escola. Para eles porque regularizaram o débito, e, para nós da escola porque, além de resolvermos a desconfortável situação de inadimplência, passamos a ter crédito para uso de vários serviços importantes para aquisição de produtos e para a manutenção das escolas”, relata Eraldo.

Porém, essa não foi a primeira vez que o professor e empresário usava a permuta como forma de negociação. “A proposta da XporY.com vem ao encontro com uma prática que já fazia desde a fundação da nossa primeira escola há 20 anos que é trabalhar com algumas permutas, ou escambos. Então temos muitos pais que são nossos parceiros comerciais e nos prestam serviços de dedetização, outros que trabalham com vidraçaria, temos um pai de aluno que trabalha com serralheria e é quem faz os consertos das nossas carteiras e nós prestamos nossos serviços em troca do dele. Sendo assim a plataforma veio para facilitar algo que já fazíamos intuitivamente, e agora com a opção inovadora de escolhermos o que pretendemos adquirir na rede”, conta.

Alívio no orçamento

Advogada Juliana Rodrigues Martins Cardoso. Foto/Reprodução

Mesmo antes da pandemia, a XporY.com já vem viabilizando a formação escolar particular de mais alunos. A advogada Juliana Rodrigues Martins Cardoso quitou um ano inteiro de escola do filho usando a plataforma, investindo para isso X$ 18 mil. Juliana adquiriu uma das quatro cartas de crédito de um tradicional colégio particular em Goiânia, o Prevest, que estava sendo ofertado na XporY.com.

Essas cartas de crédito, por sua vez, foram cadastradas por empresa de outdoor que prestou serviço ao colégio e as recebeu como pagamento. “Foi uma negociação interessante, pois eu se tivesse que pagar um ano inteiro de escola em reais, muito provavelmente não conseguiria. E a própria empresa de outdoor, que não tinha interesse em usar essas cartas de crédito, conseguiu ganhar um bom crédito em X$ para usar como quiser”, afirma a advogada, que além de consultoria jurídica, oferece outros produtos na plataforma.

Para o especialista em empreendedorismo, inovação e fundador da XporY.com, Rafael Barbosa, a economia colaborativa e compartilhada oportuniza mais formas de negociação de bens e serviços, o que deverá ser algo ainda mais frequente nesta época de recursos escassos. “O sistema de permutas multilaterais agrega às trocas porque o credor não precisa aceitar um serviço ou produto de que não precisa. Ele recebe na moeda digital e adquire aquilo que lhe interessa ”, explica.

*Como funciona*

Na plataforma XporY.com, empresas de todos os portes, segmentos e localidades, desde micro a indústrias e profissionais autônomos, podem participar. O interessado se cadastra gratuitamente, sendo necessário para isso oferecer um produto ou um serviço, ou um artigo de desapego. O valor, ao invés de ser em Reais, passa a ser precificado pela moeda da plataforma, denominada X$.

Se a oferta anunciada é consumida, o usuário recebe o crédito e pode comprar outras ofertas cadastradas pelos demais participantes da plataforma, permitindo assim o consumo de opções variadas de produtos e serviços. Além de adquirir serviços e produtos, o participantes podem convidar fornecedores de seu interesse, assim como a escola de seus filhos, para também participarem e se cadastrar na plataforma, a fim de negociarem pagamento de faturas em aberto e futuras por meio da moeda digital, solucionando e evitando, assim, a continuidade da inadimplência.

O acesso à XporY.com é aberto para todos e pode ser feito pelo aplicativo para iOS ou Android, ou pelo site www.xpory.com. Além da ausência do custo de adesão, os membros da plataforma também não pagam um valor mensal de manutenção e nem comissão sobre as vendas no site. Somente na hora de consumir, é que se paga apenas uma taxa de 10% em reais sobre o valor da compra.

Da redação do Gama Cidadão – 02/05/2020

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