Presidente da Rede Sarah Kubitschek fala da proposta de criação do Instituto Hospital de Base

Por Ana Maria Campos-À QUEIMA-ROUPA – 07/06/2017 – 04:59:12

Ao propor a criação do Instituto Hospital de Base, o governo Rollemberg apresenta como parâmetro de sucesso o modelo a gestão da rede Sarah Kubitschek. Essa comparação é pertinente?

Não me parece pertinente. São situações muitos distintas. A Rede Sarah é nacional, conta com 9 hospitais, atende a 1 milhão e meio de pacientes por ano, não temos pronto-socorro, os nossos hospitais são quaternários, não podem ser comparados a um hospital geral de grande porte com serviço de emergência como é o caso do HBDF. Consideramos sempre saudável o debate público sobre modelos diferenciados para a gestão na saúde, visando o melhor atendimento da população. Se tivéssemos sido consultados a respeito do projeto, nossa sugestão seria que um novo modelo fosse implantado em uma unidade de menor porte, em caráter piloto, e não no Hospital de Base. O HBDF é a grande referência em urgência e emergência no DF e na região do Entorno, contando com profissionais altamente qualificados.

 

Qual é a principal diferença entre a gestão do Sarah e o modelo proposto pelo GDF para administração do Hospital de Base?

Li o projeto de lei para a criação do Instituto. Ele contém apenas 3 artigos copiados da lei federal nº 8.246 de 1991 que criou a Associação das Pioneiras Sociais /Rede Sarah de Hospitais, talvez porque sejam realidades muito diferentes. No nosso contrato, temos um sistema muito mais rígido de compras e seleção pública, ambos construídos em conjunto com o TCU e posteriormente auditados anualmente por eles e aprovados. Nosso contrato é de cinco anos, o do DF propõe 20 anos. Nossos profissionais são contratados pelo regime da CLT, mas nossa lei previu assegurar a previdência privada. Não vi menção à aposentadoria no projeto do Base. Enfim, são legislações e normas muito diferentes, talvez em função de diferentes perspectivas. A implantação da nossa lei consolidou algo que já funcionava com nossos princípios, recursos humanos e estrutura física. Nossa Associação era a antiga Fundação das Pioneiras Sociais, para melhorar a gestão e transformar em rede nacional foi aprovada no Congresso Nacional a lei que previa o primeiro contrato de gestão do país, mas não houve nenhuma mudança estrutural relevante. Significou a expansão de um modelo de saúde que já vinha sendo estudado e aplicado. Foi um processo de dentro para fora. O modelo não se reduz a uma Lei ou contrato, o modelo Sarah foi se desenvolvendo, aprimorando e consolidando ao longo de muitos anos e precisa continuar a se aperfeiçoar. 

 

Qual é a sua opinião sobre esse projeto em discussão na Câmara Legislativa que discute a gestão do Hospital de Base com mais liberdade para contratações? É o caminho para melhorar o atendimento ao cidadão ou há outras formas?

A liberdade de contratação de compras, por exemplo, pode ser um mecanismo que venha a ajudar a agilizar um pouco a gestão. Esta liberdade, no entanto, depende de normas de licitação muito claras, de muita transparência e competência no uso dos recursos. Quando se trata de dinheiro público, não se pode falar muito em “liberdade”, é preciso ter muita responsabilidade e mecanismos de transparência e governança que permitam a sociedade e aos órgãos controladores acompanharem a gestão, e nos ajudarem a aprimorá-la. A gestão é muito maior do que a contratação, não adianta ter agilidade para comprar medicamentos, porém não ter um excelente controle de estoque e deixar que percam validade ou faltem no estoque. Quanto à contratação de pessoal, nossa experiência mostra que quanto mais exigente, melhores serão os profissionais e consequentemente o funcionamento da unidade hospitalar. 

 

Por que a Rede Sarah alcançou níveis de excelência e é considerada um modelo de sucesso?

Trabalhamos com base em princípios filosóficos, que estão afixados nas paredes de todas as nossas unidades que são ligados à qualidade, humanismo e respeito ao patrimônio público. Todos os profissionais são admitidos por seleção pública de alto nível, depois fazem um período de três a seis meses de treinamento para homogenizar o conhecimento, entender os princípios e se integrar a um modelo realmente interdisciplinar que leva a uma melhor qualidade de atendimento. Não há terceirizações, áreas como higiene, segurança, copa e cozinha, lavanderia são todas compostas de pessoas aprovadas por seleção pública e treinadas, todos são respeitados como profissionais de saúde. O fato de, por exemplo, um auxiliar de higiene fazer uma formação entendendo o que são vírus, bactérias, etc, podendo ver no microscópio, ajuda a manter a infecção hospitalar muito baixa. Todos trabalham em dedicação exclusiva, o que permite maior integração, maior compartilhamento de saberes e maior dedicação a cada pessoa atendida por nós. A valorização do trabalhador e o cuidado com a satisfação dele também é um ponto forte, porque se a pessoa trabalha feliz atende o paciente melhor. Outro ponto fundamental é a informatização. Nossa Rede de Hospitais implantou o prontuário eletrônico desde 1996, e informatizamos todos os sistemas de informação hospitalar e de gestão de materiais, estoques, compras, enfim, temos mecanismos de governança e transparência muito fortes, o que permite maior eficácia e eficiência na aplicação dos recursos públicos.

  • Israel Carvalho

    Israel Carvalho é jornalista nº. DRT 10370/DF e editor chefe do portal Gama Cidadão.

    Related Posts

    Meninas no Controle: Um Guia para Projetos de Sucesso

    No coração do compromisso do CEMI-Gama com a igualdade de gênero e a educação inclusiva, destaca-se a oficina “Meninas no Controle”. Esta oficina é uma iniciativa pioneira (3ª Jornada Tecnológica…

    Ler mais

    Continuar lendo
    Presidente do PL lança Michelle Bolsonaro à Presidência como opção ao ex-mandatário

    O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse em entrevista à CNN nesta sexta-feira (27) que a Michelle Bolsonaro será uma opção ao partido caso o ex-presidente Jair Bolsonaro não…

    Ler mais

    Continuar lendo

    Deixe um comentário

    Pra você

    Moradores do Gama cobram acesso à cultura, melhorias na saúde e valorização da educação em encontro com parlamentares

    Moradores do Gama cobram acesso à cultura, melhorias na saúde e valorização da educação em encontro com parlamentares

    Debatendo as Cidades chega ao Gama para discutir prioridades e cobrar soluções para a região

    Debatendo as Cidades chega ao Gama para discutir prioridades e cobrar soluções para a região

    Saberes e Tradição ganham vida na Exposição Multimídia Vila São João, no Gama

    Saberes e Tradição ganham vida na Exposição Multimídia Vila São João, no Gama

    Marinha oferece atendimento médico gratuito no Parque da Cidade com hospital de campanha

    Marinha oferece atendimento médico gratuito no Parque da Cidade com hospital de campanha

    Copa Bem Amigos movimenta o futebol de base no Gama e revela talentos da periferia

    Copa Bem Amigos movimenta o futebol de base no Gama e revela talentos da periferia

    Com protagonismo do Gama, movimento nacional dos agentes de trânsito chega à Câmara dos Deputados

    Com protagonismo do Gama, movimento nacional dos agentes de trânsito chega à Câmara dos Deputados